MUDARAM AS ESTAÇÕES
- Por Outro Olhar
- 25 de nov. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 5 de dez. de 2019
Aqui o clima está estranho
Opinião | Texto de João Pedro Sacramento

Em São João del-Rei o clima está estranho. Refiro-me ao clima meteorológico e ao social. De repente o tempo esfria e esquenta, e começam a acontecer eventos absurdos. Comecei a reparar nisso na universidade. O humor das pessoas está muito semelhante às previsões climáticas. Há pessoas que amanhecem ensolaradas, mas ficam nubladas ao final da tarde e com forte risco de chuva à noite. A ameaça de ventania, e uma possível nevasca, assombra as pessoas. Há quem sonhe com a nevasca, por uma nostalgia da lareira que nunca tivera.
Por fim, não veio a neve, mas veio o frio. E com o frio, a gripe. E com a gripe, uma sensação constante de melancolia no olhar até de quem prefere os climas mais amenos. Na faculdade, as pessoas caminham pelos corredores sempre com uma cara de que vão desmaiar a qualquer momento. O twitter está lotado de reclamações sobre o fim do período. Talvez a melancolia seja a gripe, que o clima frio da universidade causou na gente.
Sei que a comparação pode parecer esdrúxula, mas convenhamos que as semelhanças existem. As gripes vêm sendo batizadas há anos. Já tivemos a Espanhola, a suína, a influenza e até a H1N1. E com a melancolia não é diferente. Hoje, chamamos ela de depressão, ansiedade, burnout e até “vontade de trancar o curso”. Como ainda não inventaram um antibiótico para a melancolia, muita gente ainda morre. As redes sociais estão lotadas de zumbis debitados à tristeza.
Digo à vocês que a depressão é a mais nova Peste Negra, e como não sou médico, posso especular à vontade. Nada como a liberdade dos escritores e dos ignorantes. Eu entendo completamente o pavor de ver alguém gripado. A um tempo atrás, as pessoas tinham medo do contágio por telefone. Acredita? Se eu vivesse naquele tempo, com a gripe que estou, não poderia ligar para ninguém. Até porque minha voz está horrível e seria impossível de ser compreendida. Minha sorte que hoje a gente já quase não liga mais, e o contágio só seria possível via áudio no Whatsapp. Mas eu não vejo essa mesma preocupação com a melancolia.
Por aqui parece não ter ciência exata. A meteorologia é uma loucura. E, assim como na psicologia, sempre têm um palpiteiro, pronto pra dar a sua opinião. Estamos vivendo a geração dos “Doutores do Achar”. Ligue o rádio ou a TV, acesse uma rede social e o que mais vai ver é um completo amontoado de “Eu acho isso...” e “Eu acho aquilo...”. Depois de alguns dias gripado e alguns meses de aula, eu já coleciono um infinidade de receitas para curar a gripe e a desesperança. Tirando o farmacêutico, todo mundo já me receitou alguma coisa que, eles garantem, ser “tiro e queda”. Mas, nos tempos políticos que estamos passando no Brasil, essa expressão deveria ser evitada.
Resumindo: ninguém está levando a gripe e a depressão à sério. A maioria ainda encara as duas como frescura. Todos associam a baixa imunidade à uma “doidera” na meteorologia. A noite, para quem sofre com a gripe e a depressão, sopra um vento gelado, que traz com ele uma rajada forte e fria. A gripe precisa de uma mudança climática para derrubar um aluno na cama, a melancolia não. Pra quem tem ansiedade, a madrugada é assombrosa. A ansiedade é aquele vento que bate a porta e balança a janela. Talvez a minha gripe, seja culpa minha por ter dormido com a janela aberta, ou talvez eu tenha dormido com a janela aberta por estar muito cansado dos trabalhos da faculdade.
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